A neurologia foi uma das ciências que mais se desenvolveu nos últimos tempos , sobretudo após os avanços das tecnologias do imageamento cerebral . Os diversos distúrbios neurológicos tais como perda da fala , da linguagem , da memória , da visão , da percepção dos sentidos e da identidade , foram estudados largamente e construído um conjunto de conhecimento específico para cada um deles, e muito do que se pensava sobre as causas fisiológicas ou psíquicas desses danos , caiu por terra com o avanço da tecnologia médica .
Desde o final do século XIX, a pesquisa científica de inúmeros neurologistas sobre o cérebro humano foi a responsável por estabelecer definitivamente uma relação entre cérebro e mente , cérebro e corpo e, finalmente, corpo e mente .
A neurologia tornou-se, portanto , uma “ciência personalista” ao comprovar que os acidentes vasculares cerebrais ou demais danos ao cérebro , tal como foi vítima Phineas Gage, também afetava a personalidade e a identidade do sujeito , sua “persona”, sua subjetividade, seu próprio “eu ”.
Os filmes são : “At First Sight”(À Primeira Vista ) – Direção de Irwin Winkler – MGM/United Artists, 1999; “Awakening” (Tempo de Despertar ) – Direção de Penny Marshall – Columbia/Tristar Pictures, 1990. A peça de teatro chama-se “The Man Who Mistook his Wife for a Hat” (O Homem que Confundiu sua Mulher com um Chapéu ) – Direção de Peter Brooks, Royal Natinal Theatre, Junho de 1994.
Sacks se tornou um proeminente intérprete das desordens neurológicas na cultura anglo-americana, tornando-se uma celebridade no mundo acadêmico . No início de sua carreira ele inspirou a prática daquilo que ele chamou de “neurologia romântica”, ou seja, uma neurologia que recobre a subjetividade de seus pacientes ao invés unicamente das condições fisiológicas engendradas pela neurologia tradicional.
A consequência disso é que Sacks, apesar de não construir uma teoria inovadora acerca da construção da imagem do corpo , da subjetividade e da identidade pessoal, ele passa fazer uso das teorias disponíveis no campo fenomenológico para auxiliá-lo nas descrições subjetivas de diversos distúrbios neurológicos de seus pacientes sem , no entanto , desprezar a descrições dos mesmos distúrbios através das mais modernas técnicas médicas para análise e tratamento .
O que Sacks propõe não é a compreensão da subjetividade humana , da identidade e da construção da imagem do corpo a partir de uma entidade exterior ao corpo . O cérebro é um órgão integrado à visceralidade da matéria do próprio corpo , e como tal , necessita desse corpo e de todos os seus dispositivos necessários para conhecer , reconhecer e decodificar todos os estímulos providos pelo ambiente e pela interioridade de sua carne , construindo imagens de si , narrativas de si e fundamentando o seu “eu ” e a sua identidade a partir do seu equipamento lingüístico . Com isso , Sacks quebra definitivamente o modelo clássico do dualismo cartesiano e aponta para uma possível compreensão de uma neurologia mais voltada para a identidade do que para as descrições dos distúrbios neurológicos.
Este neurologista vem apontando para algo novo no campo da ciência do século XXI: a possibilidade de uma “neurologia romântica” como ele bem a definiu no início de seus estudos , ou quem sabe, uma “neurologia da identidade ”, uma “neurologia do self” ou ainda uma “neurologia do ‘eu ’”.
No campo da subjetividade, não podemos nos fechar para os avanços que as ciências médicas têm proposto para as nossas certezas diante da mente e da alma humana. Aprender com o olhar clínico de pesquisadores como Oliver Sacks, é se abrir para as mudanças que Freud já havia referido na primeira metade do século passado e buscar, na atualidade, novas narrativas da mente.
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