Existe algo de humano na dor e no sofrimento e esse estatuto insofismável é engendrado pela nossa capacidade de significa-la e representa-la. A dor pode ser considerada uma das formas mais elementares do organismo humano se defender e quando ela aparece, significa que há algo que precisa de maior atenção e cuidado. Mas quando falamos de dor e sofrimento, como poderíamos classifica-los nos seus mais variados tipos?
No que compete à dor, ela se coaduna através da enxaqueca; dor de cabeça; artrite; artrose; fibromialgia; gota; dor muscular crônica; reumatismo; dor de dente; otite; apendicite; cálculo renal; cólica; dor das parturientes, sem contar as dores provocadas por acidentes tais como queimaduras, fraturas ou perfuração corporal. Cada uma dessas dores é acompanhada de uma sintomatologia própria que precisa ser desvendada. Por conseguinte, o sofrimento que acompanha essas dores também é específico e pode ser causado por alguma lesão ao organismo humano. Mas é preciso que se diga que a dor e o sofrimento variam de intensidade de indivíduo para indivíduo.
Não é a toa que a International Association for the Study of Pain (Associação Internacional para o Estudo da Dor), com sede em Seattle, nos Estados Unidos, publica mensalmente desde o ano de 1975 um periódico denominado “Pain” (dor em inglês) com as mais recentes descobertas sobre o tema, os novos medicamentos produzidos pela indústria farmacêutica e as mais recentes tecnologias médicas para identificação do que provoca o sofrimento causado pela dor. Para esta associação, dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a uma lesão tissular existente ou potencial, ou descrita em termos que significam tal lesão.
No entanto é fundamental que se afirme de imediato que há algo no organismo humano que habita na dor. Sem ela, nossa existência estaria ameaçada posto que a dor e o sofrimento nos dá a nossa dimensão subjetiva: nascemos pela dor e pelo sofrimento e muitas vezes é através da dor e do sofrimento que chegamos ao fim da vida. É pela dor e pelo sofrimento que também dimensionamos nossa relação com o outro e com o mundo que nos cerca e faz a interconexão entre o nosso estado fisiológico e psíquico. Posto isto, podemos afirmar que o ser humano necessita da dor e do sofrimento para situa-lo na sua própria história e trajetória de vida.
Tomemos o exemplo das dores reumáticas ou da artrose, ou seja, uma destruição progressiva dos tecidos que compõem a articulação e permite nossa mobilidade. Quando chegamos a certa idade, que pode ser diferente de homens para mulheres, de ocidentais para orientais, de região para região e até mesmo de país para país com suas respectivas condições de vida, a medida que o organismo humano envelhece a artrose se instala em praticamente mais de cem por cento da população mundial com mais de oitenta anos. Assim, a dor lembra constantemente ao psiquismo que o organismo está velho e não suporta certos movimentos outrora praticados na juventude. Se a mente não envelhece, o mesmo não se pode dizer do corpo com suas mazelas fisiológicas que a velhice traz.
Mas é preciso lembrar que tanto a dor quanto o sofrimento precisam ser distintas: há autores que afirmam que há dores físicas e psíquicas ou somáticas. Da minha parte, não vejo diferença entre uma dor que se constitui como física e outra que se constitui como psíquica. De igual modo, não consigo distinguir um sofrimento físico de um sofrimento psíquico, visto que ambos se afetam mutuamente.
Não há cisão nem física nem metafísica entre a mente e o corpo. Não há um abismo que separa o psíquico do somático. Não há sujeito no mundo que não altere o seu estado psíquico quando padece de um uma dor orgânica, nem muito menos há um sujeito que não tenha estados alterados na sua fisiologia quando sofre de uma dor psíquica.
Tomemos dois outros exemplos: nosso humor se altera facilmente quando sofremos de uma dor de dente, uma apendicite, uma enxaqueca ou um cálculo renal. Consequentemente, nossas taxas hormonais ficam muito debilitadas quando sofremos a perda de um amor ou de um ente querido.
Tomemos dois outros exemplos: nosso humor se altera facilmente quando sofremos de uma dor de dente, uma apendicite, uma enxaqueca ou um cálculo renal. Consequentemente, nossas taxas hormonais ficam muito debilitadas quando sofremos a perda de um amor ou de um ente querido.
A dor e o sofrimento psíquicos são únicos na história de vida de cada ser humano, posto que são sentimentos e sensações de difícil dimensionamento e que escapa à nossa razão. Nesse sentido, a dor física ou psíquica é sempre um fenômeno limite para a nossa própria subjetividade.
Se a dor altera nossa estado de humor e se torna o último afeto ou a última muralha a ser ultrapassada entre a loucura e a morte, o sofrimento designará uma perturbação global, uma emoção mal definida e, portanto, psíquica e corporal, provocando uma excitação violenta em nosso organismo.
É a partir dessas considerações que pensamos em analisar o sofrimento e suas funções para o homem no X Simpósio Brasileiro e Encontro Internacional Sobre Dor, que ocorre de 29 de Setembro a 1 de Outubro de 2011, em São Paulo.
Maiores informações no link: http://www.simbidor.com.br/simbidor_intro.html
Doutorando em Psicologia Clínica pela PUC-RIO; Mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da UERJ; Email de contato: sergiogsilva@uol.com.br.
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