sexta-feira, 22 de julho de 2011

A diferença desenhada na pele

Antes coisa de marginais, a tatuagem se expande e deixa de pertencer apenas ao mundo dos jovens


Demonstrações de amor, fidelidade ou o simples desejo de deixar o corpo mais chamativo. Eis, alguns dos motivos que fazem com que um número cada vez maior de pessoas tatuem seus corpos em todo mundo. E, ao contrário do que acontecia há algum tempo, o fenômeno saiu do universo dos jovens para atingir outras faixas etárias. Mesmo sendo um processo muito doloroso, de acordo com os especialistas, muitos buscam na prática a possibilidade de criação de novas identidades.


O psicólogo e pesquisador de corporeidade, Sérgio Silva, afirma que antes de considerarmos o fenômeno da tatuagem como um comportamento contemporâneo, devemos lembrar que o ato de marcar o corpo é uma prática milenar. Em tribos indígenas, o corpo é considerado como um veículo de comunicação através do qual são transmitidas mensagens sobre território, identidade e função de cada homem. “Verifica-se que tribos indígenas ou africanas já faziam marcas no corpo, seja através de pinturas, seja através de ferimentos na própria pele com o objetivo de participar de um rito de passagem”, comenta.



Muitos dos tatuados urbanos têm uma nação do venha a ser o rito de passagem. O processo pelo qual um indivíduo cumpre tarefas ou desafios sociais para alcançar um novo status. O fotógrafo Ramon Munhoz, 38, fez sua primeira tatuagem aos 12 anos, num tempo em que ter uma imagem desenhada no corpo era coisa de "marginal". Ramon afirma: “resolvi colocar arte na minha pele por razões comportamentais, para sair do contexto da cidade”. Dessa forma, Ramon ganhou um novo status atrelado à “marginalidade”, tornado-se assim um outsider. Hoje, com 17 tatuagens espalhadas pelo corpo, Ramon Munhoz, acrescenta uma imagem nova ao seu corpo em média entre 40 e 50 dias e não se arrepende.

Há pessoas que acreditam que a tatuagem ainda é um processo de negação dos valores vigentes na sociedade, como foi em outros tempos. Mas, na visão do psicólogo Sérgio Silva as coisas mudaram muito. Para ele, grande parte dos tatuados de hoje adere à tendência para se sentirem incluídos aos grupos sociais dos quais fazem parte. “Não creio que as pessoas que portam uma tatuagem são insatisfeitas com sua realidade. Afirmo que elas talvez não tenham a dimensão do que estão fazendo hoje pelo simples fato de que a nossa essência identitária, na atualidade, virou aparência”, afirma o especialista. O fotógrafo Ramon Munhoz concorda e destaca ainda que as motivações sociais como as suas são raras hoje em dia. “Muitas pessoas fazem uma tattoo pra entrarem em algum grupinho, serem cools, serem aceitas”, critica o fotógrafo.

Tatuados sofrem menos preconceito para ingressar no mercado de trabalho



Com a disseminação da prática da tatuagem, certos segmentos do mercado acabaram por rever seus critérios para seleção de profissionais. Há bem pouco tempo, uma pessoa tatuada teria dificuldades em conseguir uma colocação no mercado, dependendo do cargo. Hoje, esse processo é menos rigoroso por conta da maior tolerância da sociedade diante da prática. Em carreiras como a diplomacia, o rigor continua valendo: tatuado não entra. 


Profissionais liberais costumam passar por processos de seleção menos rigorosos devido aos seus ramos de atuação. Mas mesmo, assim é preciso ficar atento quanto ao local onde é feita a tattoo. Pois, mesmo profissões onde aparentemente ser tatuado ou não, não faria qualquer diferença também cobram do candidato o quesito: “boa apresentação”.


Leandro Carissimi, 38, proprietário de um restaurante nunca, admitiu um funcionário com tatuagens visíveis, pois acredita que alguns frequentadores do local podem ter preconceito.“ Os clientes são muito observadores; de certa forma pode comprometer a imagem do restaurante”, explica.


Para profissionais como o fotógrafo Ramon Munhoz que usam o corpo como uma forma de expressão artística e também profissional, a tatuagem “chega a ser um conceito; muitos fotógrafos renomados são tatuados”, comenta. Para cada nicho de mercado há uma forma de ver e aceitar a tatuagem, na hora de fazê-la, o pretendente a ingressar no clube dos tatuados deve avaliar se ela será motivo de prazeres ou de dissabores.


Publicado originalmente no Jornal Eletrônico O ESTADO RJ, em 22 de Julho de 2011. Clique aqui  para acessar a reportagem publicada no site do jornal. 

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