A Escola
Inglesa de Psicanálise se notabilizou por diferentes abordagens em torno das
relações de objeto. Dentre os autores desta escola de psicanálise, Michael Balint
foi um dos que contribuiu para uma análise do silêncio na teoria psicanalítica.
A partir
de sua experiência com pacientes silenciosos, Balint reforçou que o silêncio
cada vez mais tem sido reconhecido por ter muitos significados que não aqueles
pontuados por Freud e seus discípulos, pelo contrário, ele pode ter muitos
significados sendo que cada um deles exige um manejo diferente por parte do
analista.
De
acordo com autor, o silêncio pode se constituir como “um vazio árido e
assustador, inimigo da vida e do crescimento, no qual o paciente deve ser
retirado dele o mais cedo possível”. Em outro momento, Balint afirma que o
silêncio poder uma excitante e amigável expansão, convidando o paciente a
empreender jornadas de aventuras em terras desconhecidas de sua vida de
fantasia, na qual qualquer interpretação transferencial estará completamente
deslocada. Por fim, o silêncio ainda pode significar uma tentativa de
reestabelecer o amor primário que existe em cada indivíduo a partir de uma
relação objetal.
No setting analítico, quando o silêncio é
interrompido, ele pode ser experienciado como invasão, intrusão ou até mesmo
interpretações deslocadas do mundo interior do indivíduo, sobretudo quando
pacientes estão na fase da regressão à dependência. Neste caso, os pacientes
encontram-se ou retraídos ou em estados de pura introspecção quando a análise
já caminhou um pouco mais, produzindo uma devastação ou uma desorganização no
mundo interno desse indivíduo. De acordo com Balint, um paciente silencioso
pode estar afastado do trabalho analítico e associativo; ao invés de associar,
pode encontrar-se em puro momento introspectivo, regredido a algum período de
sua vida, recordando alguma experiência que lhe foi importante, escapando da
regra fundamental da análise.
Para
Balint o paciente silencioso traz um problema para o manejo da técnica. A
atitude habitual na análise é considerar o silêncio como sinônimo de
resistência do paciente ao processo analítico e suas dificuldades em trazer à
luz o material inconsciente originados no seu passado e na sua história de
vida. Até certo ponto, há indivíduos que vivenciam momentos de silêncio na
análise como uma resistência e como problema transferenciais. No entanto,
podemos supor que algo a mais acontece – o paciente silencioso também pode
estar pensando ou recordando seu passado e sua história de vida, pode estar
associando, pode estar elaborando ou ainda regredindo a um período de sua vida
em que se sinta seguro.
A
mudança de abordagem com relação ao silêncio e o manejo da técnica podem levar
a considerar o silêncio mais como algo positivo que pode ser vivenciado no setting e menos como sintoma de
resistência. O silêncio pode ainda ser considerado como fonte de informação
acerca das primeiras experiências vividas pelo analisando em sua relação com o
seu primeiro objeto de amor ou ódio. Pode falar até mesmo da criança que vive dentro
do paciente cujas experiências não podem ser expressas sob forma de palavras.
Mais do que isso, o silêncio vivido no setting
analítico pode ser uma boa forma de entender a experiência de pensamento do
paciente no decurso do processo analítico.
Doutorando em Psicologia Clínica pela PUC-RIO; Mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da UERJ; Email de contato: sergiogsilva@uol.com.br.
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